Qual é o resultado da soma entre um dos maiores poetas da história da nossa música e um dos caras mais geniais da atualidade? É o disco "Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - Pra Sempre Agora", lançado em 1996 pela Paradoxx Music. Aliás, só o título já mostra a que esse disco do inteligentíssimo Itamar Assumpção veio. É um dos trabalhos mais complexos que já ouvi em minha vida. Os arranjos conseguem não desvirtuar as maravilhosas melodias dos sambas de Ataulfo Alves. E o que impressiona é que são arranjos totalmente diferentes, intrincados, minuciosamente planejados, "quebrando tudo", com todas as típicas características da obra de Itamar, que invariavelmente soam estranhíssimas para os ouvidos dos chamados puristas (que de "puro" só têm o preconceito - não querem que o mundo gire nem evolua).
A banda "Isca de Polícia" (o nome de banda mais bacana que conheço), que acompanha Itamar nesse disco, tem uma sonoridade incrível, que vem da unidade desses músicos: vem da "cozinha" onde trabalham os 'chefs' Paulo Lepetit, no baixo (ele foi o técnico de gravação, e também responsável pela produção musical) e Gigante Brasil, na bateria. Vem das sensacionais e climáticas guitarras dos dois "Luízes": Luiz Waack e Luiz Chagas. Vem das teclas mágicas dos pianos e teclados de Ricardo Cristaldi, quase sempre num difícil primeiro plano. Vem do trombone de Itacyr Bocato, trombone com gosto de gafieira, que maravilhosamente faz a "ponte" com o antigo. Vem da percussão de Simone Soul, preenchendo todos os espaços. E vem das vozes cristalinas das afinadíssimas "pastoras" Tata Fernandes e Vange Milliet. Ainda há participações especiais de muita gente: a voz e o violão de Jards Macalé, os violões do Duo Fel, as vozes de Alzira Espíndola e Renata Mattar, o multi-instrumentista Tonho Penhasco, a maravilhosa banda feminina "Orquídeas do Brasil", que é um outro belíssimo projeto de Itamar, todos comungando a obra de Ataulfo Alves, e fazendo dela uma nova obra, com suas belas novas roupas.
Outro detalhe que impressiona é o encadeamento das canções, através de suas letras: Itamar consegue introduzir citações de versos que fazem parte da música seguinte em praticamente todas as canções, na maioria das vezes utilizando-se das límpidas vozes de suas "pastoras". A voz de Itamar é um capítulo à parte: sua recorrente utilização de três ou quatro vozes cantando levemente desencontradas, seu timbre grave contrastando com as vozes das "pastoras", o sentimento interpretativo em cada canção, as citações de outras músicas, tudo isso faz desse um disco de difícil digestão: realmente à frente do nosso tempo. Não é de se admirar que elaborar esse álbum tenha tomado quase três anos de trabalho de Itamar Assumpção (responsável pela idealização, concepção, direção artística e musical) e da banda Isca de Polícia (que, junto com Itamar, fez os arranjos).
E é sensacional o fechamento do álbum, com a música "Vassalo do Samba". Depois de passar por toda essa viagem de arranjos, Itamar mesmo se penitencia na última frase do álbum: "De vossa Majestade Ataulfo Alves, eu sou vassalo... pra sempre agora."
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Robert Johnson, o pai dos blues
Certos discos são impressionantes pela importância que atingem, o nível de influência que causam no resto do mundo da música. E um disco que não poderia ficar fora do meu primeiro time é o lendário disco de Robert Johnson, o único em toda a sua carreira. O disco data de 1936, e ainda é exaustivamente copiado por "blueseiros" de todo o mundo. São 29 músicas, que formam a Bíblia de qualquer apreciador do blues. Talvez seja o artista mais genial do blues, levando-se em conta a época da gravação do disco, e o nível criativo de suas canções. Isso sem falar no seu violão... sua técnica estava num patamar assustadoramente superior ao de seus contemporâneos. Isso foi motivo até para que surgisse a famosa lenda de que ele conseguia tocar assim por ter feito um pacto com o "tinhoso"... o que é pura balela, convenhamos. Mas serve para comprovar o quão à frente do seu tempo Robert Johnson estava.
Muita gente diz não gostar de blues por ser "tudo sempre igual" - e, em parte, a culpa disso são essas 29 obras-primas de Johnson, que serviram de "molde" melódico para quase tudo o que veio depois, até os dias de hoje - geralmente a estrutura da música é a mesma, apenas com uma outra letra.
Como explicar tal peso num artista que gravou apenas um disco em toda a sua carreira, em 1936? Como um disco que foi gravado a quase 70 anos atrás continua influenciando tantos artistas em todo o mundo? É certo que o blues é um estilo que "parou no tempo", concordo. Há pouca renovação criativa, e poucos artistas com vontade de fazer parte dessa renovação, tanto nas melodias quanto nas letras. Mas isso não diminui o valor desse disco, muito pelo contrário. Praticamente todas as gerações de músicos de blues (e até alguns de fora do gênero) já regravaram músicas de Johnson, ou utilizaram as criações dele como base melódica/criativa para as suas próprias composições.
Agora num lado mais pessoal: eu sempre acabo buscando quem foi o criador de cada coisa. É óbvio que é muito bom ouvir Marisa Monte e Eric Clapton, por exemplo. Mas eu prefiro ouvir Candeia, Cartola, Muddy Waters e Robert Johnson. Não sei explicar; acho que é mais ou menos como aquela brincadeira de criança, telefone-sem-fio: certamente a sua interpretação da frase dita vai mudar bastante depois de três ou quatro pares de ouvidos pelo meio do caminho. Então, malandramente, eu sempre tento me colocar como o segundo da fila - sempre vou tentar ouvir a frase do jeito que ela foi criada. Se o último da fila vai ter uma interpretação melhor, ou mais próxima do real que a minha, sinceramente eu não me importo: quero primeiro ter a minha própria impressão das coisas. E só então ouvir o que o último da fila tem a dizer... e decidir qual caminho seguir. Se isso é egoísmo? Não, acho que é só vontade de crescer e aprender.
Muita gente diz não gostar de blues por ser "tudo sempre igual" - e, em parte, a culpa disso são essas 29 obras-primas de Johnson, que serviram de "molde" melódico para quase tudo o que veio depois, até os dias de hoje - geralmente a estrutura da música é a mesma, apenas com uma outra letra.
Como explicar tal peso num artista que gravou apenas um disco em toda a sua carreira, em 1936? Como um disco que foi gravado a quase 70 anos atrás continua influenciando tantos artistas em todo o mundo? É certo que o blues é um estilo que "parou no tempo", concordo. Há pouca renovação criativa, e poucos artistas com vontade de fazer parte dessa renovação, tanto nas melodias quanto nas letras. Mas isso não diminui o valor desse disco, muito pelo contrário. Praticamente todas as gerações de músicos de blues (e até alguns de fora do gênero) já regravaram músicas de Johnson, ou utilizaram as criações dele como base melódica/criativa para as suas próprias composições.
Agora num lado mais pessoal: eu sempre acabo buscando quem foi o criador de cada coisa. É óbvio que é muito bom ouvir Marisa Monte e Eric Clapton, por exemplo. Mas eu prefiro ouvir Candeia, Cartola, Muddy Waters e Robert Johnson. Não sei explicar; acho que é mais ou menos como aquela brincadeira de criança, telefone-sem-fio: certamente a sua interpretação da frase dita vai mudar bastante depois de três ou quatro pares de ouvidos pelo meio do caminho. Então, malandramente, eu sempre tento me colocar como o segundo da fila - sempre vou tentar ouvir a frase do jeito que ela foi criada. Se o último da fila vai ter uma interpretação melhor, ou mais próxima do real que a minha, sinceramente eu não me importo: quero primeiro ter a minha própria impressão das coisas. E só então ouvir o que o último da fila tem a dizer... e decidir qual caminho seguir. Se isso é egoísmo? Não, acho que é só vontade de crescer e aprender.
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sábado, 31 de janeiro de 2009
O fenômeno da "forrolização" das músicas, ritmo forró em tudo
Dei comigo pensando que a tradicional festa junina de igreja perto de casa. É agora um conjunto de atrocidades musicais cometidas impunemente por uma banda "de forró". É impressionante o fenômeno da "forrolização" das músicas. Eles conseguem tocar tudo em ritmo de forró! Tocaram todas as músicas do Mala Mansa (atenção, revisão: é "Mala" mesmo!) e dessas novas bandas de forró pasteurizado. Aí começaram a transformar tudo em forró: todas as duplas caipiras que existem, incluindo seus descendentes, como Wanessa Camargo e Sandy & Júnior, tocaram Djavan, Luciana Mello, "Epitáfio" dos Titãs (essa foi de dar cambalhota de tanto rir), e mais todas as músicas que estão nas "paradas de sucesso" em ritmo de forró.
É triste ouvir mais de três horas de uma banda supostamente "de forró" e não ouvir nada - eu disse nada - de Luiz Gonzaga, nem de Jackson do Pandeiro... aí eu me lembro do famigerado "FAMA" da Globo. Só vi aquilo um dia: quando passei pelo canal, uma das concorrentes estava revoltadíssima com a música que ela teria que cantar. Fiquei curioso pra saber que coisa terrível ela iria ter que cantar, só porque a produção global mandou. E era "Que nem jiló", de Luiz Gonzaga... nunca mais tive coragem de ver esse programa. Parei.
Saudades de festa junina com música de verdade.
É triste ouvir mais de três horas de uma banda supostamente "de forró" e não ouvir nada - eu disse nada - de Luiz Gonzaga, nem de Jackson do Pandeiro... aí eu me lembro do famigerado "FAMA" da Globo. Só vi aquilo um dia: quando passei pelo canal, uma das concorrentes estava revoltadíssima com a música que ela teria que cantar. Fiquei curioso pra saber que coisa terrível ela iria ter que cantar, só porque a produção global mandou. E era "Que nem jiló", de Luiz Gonzaga... nunca mais tive coragem de ver esse programa. Parei.
Saudades de festa junina com música de verdade.
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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
O negócio da Música
É a velha discussão de "quem deveria ter reais direitos sobre a obra"; cansei disso. Tudo bem, seria fácil para mim, que não dependo disso pra viver, gritar aos quatro cantos do mundo: "Artistas, músicos e compositores, uni-vos: mandemos as gravadoras solenemente passear".
Mas é exatamente o que eu faria se dependesse disso pra viver. É um absurdo inconcebível ficar com menos de 2% (isso no papel, fora as "bolas nas costas") de uma obra que foi criada totalmente por você. Melhor ficar com 100% de um pouquinho, e ter liberdade de fazer o que quiser, ter o direito que todo artista deveria ter: transgredir, evoluir. Mudar caminhos. Abrir trilhas novas. Errar, e errar muito; pra aprender. E pros que vêm depois não errarem na mesma encruzilhada. Para fazer todo mundo andar pra frente, porque é pra frente que se anda, nem que se esteja à beira de um precipício. Antes voar solto no espaço do que se sentar "no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar".
"No cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador". E eu entraria nele, sem a menor hesitação.
Mas é exatamente o que eu faria se dependesse disso pra viver. É um absurdo inconcebível ficar com menos de 2% (isso no papel, fora as "bolas nas costas") de uma obra que foi criada totalmente por você. Melhor ficar com 100% de um pouquinho, e ter liberdade de fazer o que quiser, ter o direito que todo artista deveria ter: transgredir, evoluir. Mudar caminhos. Abrir trilhas novas. Errar, e errar muito; pra aprender. E pros que vêm depois não errarem na mesma encruzilhada. Para fazer todo mundo andar pra frente, porque é pra frente que se anda, nem que se esteja à beira de um precipício. Antes voar solto no espaço do que se sentar "no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar".
"No cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador". E eu entraria nele, sem a menor hesitação.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Circo de rock
Eu tenho um vizinho que gosta dessas novas bandas chatinhas (na minha modesta opinião) que pipocam por aí, tipo Korn, Limp Bizkit, Blink 182... essas coisas. E ele escuta esses sons geralmente num nível muito acima do ensurdecedor. Mas hoje - talvez pra confirmar meu pensamento que todo mundo tem o poder de te surpreender um dia - das suas caixas de som saía John Lennon cantando "Yer Blues", me fazendo escancarar as janelas e berrar um "aumenta isso ai, homem!!!" - para o desespero total dos vizinhos. Como o camarada é gente boa (apesar dos pesares) passei na casa dele com um CD-R em baixo do braço. E nele, a versão de "Yer Blues" da banda do século, "The Dirty Mac": John Lennon tocando guitarra-base e cantando; Eric Clapton, na época que ainda era Deus, merecidamente; Keith Richards se saindo muito bem no baixo (muito melhor que Bill Wyman, então o baixista oficial dos Stones); e Mitch Mitchell, o sensacional baterista do "Jimi Hendrix Experience" - ao vivo no histórico "Rolling Stones Rock And Roll Circus". Tem gente que oferece açúcar ou um pouco de gelo quando os vizinhos precisam; eu distribuo música (megalomania sem cura). Conclusão: o cara já tocou essa música umas 483 vezes até agora.
Ouvir isso me fez lembrar do show inteiro. Além dos Stones, tem The Who, Jethro Tull, Marianne Faithfull, Taj Mahal... e o "The Dirty Mac", que se reuniu especialmente para esse evento. Ainda há o sensacional diálogo entre John Lennon e Mick Jagger antes de "Yer Blues", ambos reclamando que a rotina de shows e viagens os impede de se verem mais, que eles gostam muito um do outro, etc. - enquanto Mick calmamente degusta um psicodélico prato de sopa. Bacana.
O "The Dirty Mac" tem um CD piratão "lançado" pela Unicorn Records. Chama-se "The Dirty Mac Sessions". Além de "Yer Blues" e do famoso diálogo entre John e Mick, o CD traz ensaios, jams e até algumas pérolas em mono, como "Mini Opera" do The Who, além de "Purple Haze", de Jimi Hendrix e "Wild Thing" (que ele transformou em uma outra música - passou a ser dele também). Essas duas últimas foram retiradas de um show no Winterland Arena, em San Francisco, dois meses antes da filmagem do "Circus". Tá aí um disco que eu pagaria o que fosse para ter. E por falar no Winterland Arena... ô lugarzinho bom para gravarem CD pirata! Tem também o "Live at Winterland" de Neil Young, sensacional também.
Ouvir isso me fez lembrar do show inteiro. Além dos Stones, tem The Who, Jethro Tull, Marianne Faithfull, Taj Mahal... e o "The Dirty Mac", que se reuniu especialmente para esse evento. Ainda há o sensacional diálogo entre John Lennon e Mick Jagger antes de "Yer Blues", ambos reclamando que a rotina de shows e viagens os impede de se verem mais, que eles gostam muito um do outro, etc. - enquanto Mick calmamente degusta um psicodélico prato de sopa. Bacana.
O "The Dirty Mac" tem um CD piratão "lançado" pela Unicorn Records. Chama-se "The Dirty Mac Sessions". Além de "Yer Blues" e do famoso diálogo entre John e Mick, o CD traz ensaios, jams e até algumas pérolas em mono, como "Mini Opera" do The Who, além de "Purple Haze", de Jimi Hendrix e "Wild Thing" (que ele transformou em uma outra música - passou a ser dele também). Essas duas últimas foram retiradas de um show no Winterland Arena, em San Francisco, dois meses antes da filmagem do "Circus". Tá aí um disco que eu pagaria o que fosse para ter. E por falar no Winterland Arena... ô lugarzinho bom para gravarem CD pirata! Tem também o "Live at Winterland" de Neil Young, sensacional também.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Hamilton de Holanda
Ontem ouvi Hamilton de Holanda. Confesso que não o conhecia. Fui perdendo o sono, ele é um cara muito bem-humorado, coisa e tal. Ele não está morando no Brasil, como quase todos os nossos músicos de real talento, triste isso. Depois de tocar umas "coisinhas" (que já arrancaram o resto do meu sono, arregalaram meus olhos e me fizeram travar no sofá), ele levantou e foi tocar com sua banda. Foi um soco na cara. Não me lembro quando foi a última vez que me impressionei tanto com uma primeira audição de um músico qualquer. O cara é fantástico. Eu ouvi de tudo ali naquele bandolim: Jacob, Armandinho, Miles, Coltrane, Paco de Lucia, Segovia, choro, jazz, clássico, flamenco - domínio total do instrumento. E fica melhor ainda quando se percebe que ele, além de dominar a técnica, toca com sentimento. Fim da primeira música, platéia em êxtase - e eu aqui, mais ainda. Num momento de iluminação suprema, uma pessoa pede para o cara tocar mais uma. Aí foi covardia, virei fã de carteirinha.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Mudar para evoluir
Mudanças são necessárias. Mudanças são positivas. São desafios, às vezes assustam. Causam alívios, mas podem queimar bastante - muito embora nada as impeça de que queimem pra melhor, ou aliviem pra pior. São difíceis pra quem tem medo, mas muitas vezes os mais corajosos fogem delas. E em vários momentos da vida, é o caminho mais longo a se tomar... e o mais certo. É por onde a gente deve ir.
Só tenho certeza de uma coisa: é muito mais fácil mudar quando se tem amigos por perto, amigos com quem se possa contar.
Só tenho certeza de uma coisa: é muito mais fácil mudar quando se tem amigos por perto, amigos com quem se possa contar.
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sábado, 24 de janeiro de 2009
Viver é melhor que sonhar
Há uns bons seis ou sete meses eu não toco em uma banda. Sempre foi algo que gostei de fazer, apesar de nunca ter conseguido ganhar dinheiro fazendo isso - o máximo que consegui foi bebida grátis e batatas fritas - mas é uma das coisas que têm o poder de me deixar bem. E essa semana recebi uma boa notícia. Meu camaradão Augusto, que tocava bateria na minha antiga banda, arranjou um baixista, e resolveu reunir a velha formação da banda. Amanhã tem ensaio - e eu estou na secura total pra tocar. É engraçado como isso estava fazendo falta na minha vida. E agora que isso voltou, velhos sonhos vêm à tona: será que essa é a hora?
Se um dia eu parar de sonhar, por favor: me enterrem, ok?
E agora quero pedir uma contribuição a vocês que passam por aqui: que tal uma dica para o nome da banda? Não queremos usar o antigo; então qualquer sugestão será bem-vinda. Toque fogo aí!
Se um dia eu parar de sonhar, por favor: me enterrem, ok?
E agora quero pedir uma contribuição a vocês que passam por aqui: que tal uma dica para o nome da banda? Não queremos usar o antigo; então qualquer sugestão será bem-vinda. Toque fogo aí!
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Dor e liberdade
O fluxo da dor Porque ninguém sabia mais ao certo onde pisava.
E também porque não havia mais motivos para saber.
Estavam livres. E livres, sem uma linha a que seguir ou ordens a obedecer, podiam ser o que quisessem. Sempre. E cada um seguiu uma linha. Cada um fez da sua própria vontade, de seus desejos, caminhos alternativos para a descoberta dos prazeres mundanos. E então eles não mais se encontraram, a não ser pela palavra. Antes era a dor, depois, apenas o verbo.
E sem a dor houve o desentendimento. Sem a identificação que os permeava, começou a nascer, devagar, mas constante, o vácuo. A palavra, apesar de boa, não preenchia todo o espaço. Faltava saber quem eram, um para o outro.
Ate que um dia, a dor apareceu sob outra forma. De sentimento experimentado por todos, passou a ser apenas alimentado por alguns, em beneficio de outros. A dor invadiu lares, casas, transformou-se em uma premonição de algo mais duradouro e poderoso. Ganhava consistência. Invadia os olhos de alguns e saltava de la apenas no rosto de outros. Tornou-se fluxo. O fluxo da dor.
Foi preciso então tentar acabar com a dor. O seu fim ficou decidido, pela grande maioria, por meio da sua reclusão. A dor então passou a ser trancafiada dentro de cada um por meio de regras. Não era permitido mais matar, por exemplo. Nem um estupro era possivel. Acreditava-se que, com o passar do tempo, o fluxo seria então finalmente interrompido. E a dor morreria por inércia, sem movimento, fechada em si mesma.
As regras terminaram com a liberdade. E não acabaram com a dor. Terminaram com a liberdade porque seu seguimento foi baseado em uma moral com a qual nem todos estão de acordo. Era impossível isolar todas aquelas diferenças em apenas um conjunto de leis. Cada um via o mundo ao seu modo, de acordo com as experiências que havia tido. Havia, e claro, alguns consensos. Mas os consensos, estes sim, estavam fechados em si mesmo e jamais atingiram a sociedade como um todo.
Não acabaram com a dor por ter descoberto ela ser inerente ao ser humano. Indissociáveis, um fortalece-se no outro. O homem encontra na dor a razão para continuar o caminho e vencer obstáculos. A dor encontra no homem um depositório de todas as impossibilidades que sua vida acarreta. O fluxo não teve fim. Mais: foi alimentado pelo acordar de elementos levemente adormecidos no principio da vida humana, pelas regras que o homem impôs a si mesmo. Regras que cercam – e para quebrar a barreira, talvez um pouco da dor seja preciso.
E também porque não havia mais motivos para saber.
Estavam livres. E livres, sem uma linha a que seguir ou ordens a obedecer, podiam ser o que quisessem. Sempre. E cada um seguiu uma linha. Cada um fez da sua própria vontade, de seus desejos, caminhos alternativos para a descoberta dos prazeres mundanos. E então eles não mais se encontraram, a não ser pela palavra. Antes era a dor, depois, apenas o verbo.
E sem a dor houve o desentendimento. Sem a identificação que os permeava, começou a nascer, devagar, mas constante, o vácuo. A palavra, apesar de boa, não preenchia todo o espaço. Faltava saber quem eram, um para o outro.
Ate que um dia, a dor apareceu sob outra forma. De sentimento experimentado por todos, passou a ser apenas alimentado por alguns, em beneficio de outros. A dor invadiu lares, casas, transformou-se em uma premonição de algo mais duradouro e poderoso. Ganhava consistência. Invadia os olhos de alguns e saltava de la apenas no rosto de outros. Tornou-se fluxo. O fluxo da dor.
Foi preciso então tentar acabar com a dor. O seu fim ficou decidido, pela grande maioria, por meio da sua reclusão. A dor então passou a ser trancafiada dentro de cada um por meio de regras. Não era permitido mais matar, por exemplo. Nem um estupro era possivel. Acreditava-se que, com o passar do tempo, o fluxo seria então finalmente interrompido. E a dor morreria por inércia, sem movimento, fechada em si mesma.
As regras terminaram com a liberdade. E não acabaram com a dor. Terminaram com a liberdade porque seu seguimento foi baseado em uma moral com a qual nem todos estão de acordo. Era impossível isolar todas aquelas diferenças em apenas um conjunto de leis. Cada um via o mundo ao seu modo, de acordo com as experiências que havia tido. Havia, e claro, alguns consensos. Mas os consensos, estes sim, estavam fechados em si mesmo e jamais atingiram a sociedade como um todo.
Não acabaram com a dor por ter descoberto ela ser inerente ao ser humano. Indissociáveis, um fortalece-se no outro. O homem encontra na dor a razão para continuar o caminho e vencer obstáculos. A dor encontra no homem um depositório de todas as impossibilidades que sua vida acarreta. O fluxo não teve fim. Mais: foi alimentado pelo acordar de elementos levemente adormecidos no principio da vida humana, pelas regras que o homem impôs a si mesmo. Regras que cercam – e para quebrar a barreira, talvez um pouco da dor seja preciso.
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Sociedade e a brutalidade da vida humana no passado
Nem uma violação era possivel.
Se voce se surpreendeu ou ficou chateado ou chateada com a frase, meu objetivo foi atingido. Não é questão de apenas chocar - isso, sem embasamento, é sem graça demais.
Mas tenho certeza que nos primordios da vida humana, no qual não havia esta moral (talvez cristã até), e tão pouco este respeito que existe hoje, o estupro era mais comum do que você pensa.
Não quero dizer com isso que acho certo, muito pelo contrário. Sou totalmente contra, acho que quem faz deveria passar um bom tempo isolado para aprender a conviver em sociedade.
Se voce se surpreendeu ou ficou chateado ou chateada com a frase, meu objetivo foi atingido. Não é questão de apenas chocar - isso, sem embasamento, é sem graça demais.
Mas tenho certeza que nos primordios da vida humana, no qual não havia esta moral (talvez cristã até), e tão pouco este respeito que existe hoje, o estupro era mais comum do que você pensa.
Não quero dizer com isso que acho certo, muito pelo contrário. Sou totalmente contra, acho que quem faz deveria passar um bom tempo isolado para aprender a conviver em sociedade.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Beatles e George Harrison
Estive pensando sobre a morte do Beatle George Harrison.
Isso me faz questionar o que poderia ser dito que ainda nao foi. Parece que todas as analises ja foram feitas, mas nenhuma em si eh completa. Nenhum ser humano é completo apenas em uma analise.
Já foi dito seu papel nos Beatles. Já foi dito sua carreira solo. Já foi dito que tinha familia, filhos, que deixa viuva e orfaos.
O fato é que os beatles acabaram há mais de 30 anos. E que a carreira solo de Harrison nao é o que faz ele ser lembrado e homenageado nestes dias. Se fosse só pelo que fez sozinho, talvez houvesse alguma manifestação, mas a guarda britanica nao tocaria Beatles na sua troca de posição.
E bom, sobre os Beatles, o que sempre achei, eh que apesar de novas e novas formas de composicao de rock terem sido feitas apos sua morte, nenhuma não teve alguma inspiração neles. Se fosse montada uma arvore genealogica do rock, os Beatles teriam que estar na raiz. Foram a raiz para tudo o que surgiu, embora nem tudo o que surgiu tenha se alimentado soh da seiva produzida lá em baixo.
Hoje, acabou. Como tudo um dia acaba, os Beatles tambem se foram. Primeiro, como banda. Agora, parecem estar indo como pessoa. Só faltam dois, que um belo dia, talvez com sol radiante como estava sexta, tambem vao se despedir de nós. Isto parece muito triste a principio. Mas fica um pouco menos se lembrarmos que só se tornam lendas aqueles que entraram para a eternidade na historia humana. Se algum dia o rock realmente morrer, ainda havera aquela pessoa que ouvira Beatles. Assim como ainda hoje ouvem Mozart, Beethoven, Bach.
Isso me faz questionar o que poderia ser dito que ainda nao foi. Parece que todas as analises ja foram feitas, mas nenhuma em si eh completa. Nenhum ser humano é completo apenas em uma analise.
Já foi dito seu papel nos Beatles. Já foi dito sua carreira solo. Já foi dito que tinha familia, filhos, que deixa viuva e orfaos.
O fato é que os beatles acabaram há mais de 30 anos. E que a carreira solo de Harrison nao é o que faz ele ser lembrado e homenageado nestes dias. Se fosse só pelo que fez sozinho, talvez houvesse alguma manifestação, mas a guarda britanica nao tocaria Beatles na sua troca de posição.
E bom, sobre os Beatles, o que sempre achei, eh que apesar de novas e novas formas de composicao de rock terem sido feitas apos sua morte, nenhuma não teve alguma inspiração neles. Se fosse montada uma arvore genealogica do rock, os Beatles teriam que estar na raiz. Foram a raiz para tudo o que surgiu, embora nem tudo o que surgiu tenha se alimentado soh da seiva produzida lá em baixo.
Hoje, acabou. Como tudo um dia acaba, os Beatles tambem se foram. Primeiro, como banda. Agora, parecem estar indo como pessoa. Só faltam dois, que um belo dia, talvez com sol radiante como estava sexta, tambem vao se despedir de nós. Isto parece muito triste a principio. Mas fica um pouco menos se lembrarmos que só se tornam lendas aqueles que entraram para a eternidade na historia humana. Se algum dia o rock realmente morrer, ainda havera aquela pessoa que ouvira Beatles. Assim como ainda hoje ouvem Mozart, Beethoven, Bach.
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sábado, 17 de janeiro de 2009
melhores diretores do cinema mudo e filmes que vou ver
Os três melhores diretores do cinema mudo:
Fritz Lang, FW Murnau e Ernst Lubitsch.
Murnau fez Nosferatu (baseado no Dracula de Bram Stoker), The Last Laugh e Fausto, dos quais eu vi parte de Nosferatu, apenas. Todos sao famosos por apresentar grandes passos em direcao a uma imagem de cinema marcante. Ou seja, Murnau reside mais pela forca da imagem do que necessariamente pelas historias de seus filmes, embora tenha usado Stoker e Goethe como roteiro. Isso provavelmente se deve ao fato de ter estudado literatura e artes plasticas antes de decidir se tornar cineasta. Lutou na Primeira Guerra Mundial, como piloto de avioes.
Agora que estou praticamente em ferias (certo, tem mais duas semanas, mas tá muito proximo), fiz uma lista de filmes para ver ou rever nas ferias. Quem sabe eu nao adquiro alguma cultura em cinema:
- Nosferatu (Murnau, 1922)
- O gabinete do dr. Caligari (Wiene, 1919)
- Cinema paradiso (Tornatore, 1988)
- Barril de pólvora (Paskaljevic, 1998)
- O homem-elefante (Lynch, 1980)
- Os Boas vidas (Fellini, 1953)
- Os duelistas (Scott, 1977)
- Intriga internacional (Hitchcock, 1959)
- O grande golpe (Kubrick, 1956)
- Crepúsculo dos deuses (Wilder, 1950)
- Casablanca (Curtiz, 1942)
- Cidadão Kane (Wells, 1941)
- Butch Cassidy (Hill, 1969)
- Trono manchado de sangue (Kurosawa, 1957)
- Os sete samurais (Kurosawa, 1954)
- Touro indomável (Scorsese, 1980)
Fritz Lang, FW Murnau e Ernst Lubitsch.
Murnau fez Nosferatu (baseado no Dracula de Bram Stoker), The Last Laugh e Fausto, dos quais eu vi parte de Nosferatu, apenas. Todos sao famosos por apresentar grandes passos em direcao a uma imagem de cinema marcante. Ou seja, Murnau reside mais pela forca da imagem do que necessariamente pelas historias de seus filmes, embora tenha usado Stoker e Goethe como roteiro. Isso provavelmente se deve ao fato de ter estudado literatura e artes plasticas antes de decidir se tornar cineasta. Lutou na Primeira Guerra Mundial, como piloto de avioes.
Agora que estou praticamente em ferias (certo, tem mais duas semanas, mas tá muito proximo), fiz uma lista de filmes para ver ou rever nas ferias. Quem sabe eu nao adquiro alguma cultura em cinema:
- Nosferatu (Murnau, 1922)
- O gabinete do dr. Caligari (Wiene, 1919)
- Cinema paradiso (Tornatore, 1988)
- Barril de pólvora (Paskaljevic, 1998)
- O homem-elefante (Lynch, 1980)
- Os Boas vidas (Fellini, 1953)
- Os duelistas (Scott, 1977)
- Intriga internacional (Hitchcock, 1959)
- O grande golpe (Kubrick, 1956)
- Crepúsculo dos deuses (Wilder, 1950)
- Casablanca (Curtiz, 1942)
- Cidadão Kane (Wells, 1941)
- Butch Cassidy (Hill, 1969)
- Trono manchado de sangue (Kurosawa, 1957)
- Os sete samurais (Kurosawa, 1954)
- Touro indomável (Scorsese, 1980)
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Tropicalistas e Tropicalismo
Uma pagina sobre cinema, teatro, fotografia, um pouco de historia da arte e capas de discos. So imagens, portanto. Discos? Nao, nao, obrigado. A internet esta repleta de sites que tentam descobrir o novo Nirvana em alguma bandinha de uma pequena cidade da Carolina do Norte. Se fosse para falar sobre musica, eu falaria sobre MPB. Mas quem disse que eu tenho saco para isso? Ou melhor: quem disse que eu tenho conhecimento para isso? E tem muita coisa ruim na MPB tambem. Jovem Guarda? Olha, o unico cara que passa pela Jovem Guarda e consegue algum aplauso meu é o Roberto. Mesmo assim, algum aplauso nao significa aplausos entusiasmados. Ontem a Folha deu uma pagina para Marina Lima. Eu tambem acho Marina lamentavel. Junto com a Gal Costa, a Maria Bethania (credo, nunca imaginei citar esse nome aqui) e varias outras cantoras. A Elis Regina era boa. É, era. Bossa Nova e Tropicalismo sao legais. A Bossa fundida com o Jazz é bem bacana (eu adoro jazz, disso eu poderia ateh falar um pouco, um minimo). Tropicalismo é legal porque quebrou com a ordem. E é a coisa mais legal do mundo quebrar com a ordem. Foi o que o New York Dolls fez tambem no pre-punk, mas acho o Tropicalismo mais legal, porque era mais dificil quebrar a ordem. De um lado, gente de direita, tentando se manter no poder e reprimir qualquer manifestacao. Do outro, gente de esquerda, tentando derrubar o poder e fazer qualquer manifestacao. Surge entao um movimento que criticava a estetica musical brasileira. Queria a incorporacao de influencias externas (como os Estados Unidos, que agradava os militares e desagrada a esquerda ), mas tocado de um jeito nacional. Faziam isso com classe e disso, uma forma de protesto. Mas protestavam contra o que? Ora, nao era um protesto politico. Era um protesto musical na tala. E quando era politico, nao era para incorporar a esquerda ou a direita. Era para tachar as duas de burras. (e depois dizem que burro é o Caetano Veloso). Ou seja, em um momento totalmente politico, eles foram apoliticos, mas nao alienados. E quem chama os tropicalistas de alienacao é porque ainda nao entendeu absolutamente nada.
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